domingo, 2 de janeiro de 2011

(Essa é uma Elegia encantada para uma mulher poeta das mais grandiosas: FLÁVIA PEREZ, inspirado em "Elegias de Duíno" de Rainer Maria Rilke)
































Caçadora

Estou indo ver a Lua mais de perto
e já volto,
ou talvez não:

a madrugada, uma criança tão mimada
(é o que dizem),
está, por certo, sentindo a minha falta.

Desperdiçar noite não é coisa que se faça
sem castigo.

E nada de correr com os lobos:
quero é arrancar-lhes uivos

e as peles,
usar como abrigo contra as intempéries.

(uma brincadeira com o livro "mulheres que correm com os lobos", que ainda não li)

(Flá Perez)
------------------------

A tua casa etérea


Você e ela se completam,
fazem parte de um cenário que imagino,
e onde estou deitada em tua cama
de flores e pássaros,

- tua lingua em mim silencia tudo:
pássaros mudos,
flores com inveja diante desse gozo -

Ah! se eu fosse música
e te soubesse mais
e antes...

Cantava teus sussurros feito pétalas
contrastando com teu pau de pedra
em minhas mãos de fada.

nota: (a mistura de você e tu aqui foi necessária e proposital)

( Flá Perez)
--------------------


Intro


Há um lugar em mim
- um lugar sem nome -
onde ninguém mais entra,
nem ele, meu homem.

Dimensão
de silêncio súbito
ciclone mudo,
suga
na velocidade da luz
e me faz surda.

Nesse nada
capto
todo o impacto
do que não espero.

Não bata na porta,
não perturbe,
- não adianta chamar -

Não queira molhar as mãos
no oceano dos meus olhos:
profundo, repleto
de abismos,
portais, atalhos.

Proibido ultrapassar:
não tem caminho de volta,

é como o fundo do mar:
há monstros marinhos à solta!

(Flá Perez)

-----------------------------
Tsunami, se ainda me amas,
alcance-me nas ondas
que tu me provocas

- a mão deslizando
feito um peixe-espada
entre as minhas pernas –

redescobre infinitamente
as minhas cavernas

e convoca
o meu fim do mundo
onde a saudade tua
sempre

desemboca.

(Flá Perez)

----------------------



MULHER DESENHADA

Tenho espaço em meu corpo para todos os seus aguilhões,
mulher desenhada numa folha que eu mesmo construí
com a ajuda de uma árvore africana,
...o Baobá (segundo os antigos,
o Baobá é a árvore do esquecimento),
mas eu não quero nada esquecer...
E prefiro nesse agora o Baobá do planetinha
do Pequeno Principe

Encantado com o canto das cigarras,
por estar no Rio de Janeiro profundamente apaixonado
por uma mulher desenhada,
pelos rabiscos inexátos
vindo da ponta do lápis de Oscar Niemeyer,
pelos traços que esse desenho de mulher imprime
em minha simples criatura

Desenho um circulo cor de rosa
em torno do amor
que entra por essa janela cheia de mato
e pássaro irmãos

Desenho esse circulo agora com a cor do sol
sobre os lábios desse alguém
emaranhador de pêlos e ouvidos

Desenho essa mulher nas camadas mais
profundas da minha pele vivida,
nos avançares das ondas do mar
de Iracema de José de Alencar

Um presente encontrar em plena praia do pontal,
na princesa Paraty...
tão digna sensibilidade
Sou tão pequeno diante de tais corais,
de tais perolas,
de tal mulher

Desenho espalhado no chão e no céu,
mãos e pés caminham a esparramar petalas
por meus olhos de quase nada,
de tudo que anda por dentro

Preciso medir as palavras do corpo
com os dedos, com a matemática da lingua...
com a totalidade da boca...

Um desenho se faz, são as minhas sombras,
as tuas sombras e a sombra da lua...
essas sombras se fundem para formarem um estado,
uma cidade, uma rua, um planeta,
uma maçã

(EDU PLANCHÊZ)